O Deputado Federal Hugo Leal participou no último dia 27 de uma reunião com o diretor do BNDES, Maurício Borges, especialista em Economia Regional e Urbana, o Presidente da FENEAUTO Magnelson Carlos e o Presidente SINDAERJ João Ribeiro.
Se
vai dar tempo ou não de organizarem a “chamada” dos mais de 50 mil
instrutores e examinadores de direção em todo o Brasil ainda fica a
dúvida, mas, já que o objetivo é verificar a qualidade do ensino da
direção veicular no Brasil e o modo como se forma os novos motoristas,
não vai ser preciso estudar para a prova, é só mostrar como fazem no dia
a dia. Afinal, quem sabe, sabe.
Para
aqueles que estão ingressando ou tem pouco tempo de profissão, o
Ministério das Cidades vai avaliar por tabela a qualidade das
instituições que estão formando esses profissionais. Para os que já
estão na profissão há bastante tempo e, inclusive, gostam de citar como
referência o fato de darem aulas de direção há mais de 20 ou 30 anos, é a
oportunidade de verificar se precisam de atualização para melhorar a
qualidade do ensino da direção veicular.
A
coisa agora parece que é séria, pois o assunto também será tema de
audiência pública agendada para o dia 24 de setembro, às 14h, no Anexo
II da Câmara dos Deputados em Brasília, no Plenário 11. A iniciativa é
do deputado carioca Hugo Leal, autor da Lei seca, e será transmitida ao
vivo pela internet no Portal da Câmara dos Deputados.
Participam
desse debate o presidente da Federação Nacional das Autoescolas Centro
de Formação de Condutores (FENEAUTO), o Presidente da Associação
Nacional dos Detrans/Detran-AC, o Diretor-Geral do DENATRAN, o
Presidente do Sindicato das Autoescolas do Estado do Rio de Janeiro; o
Presidente do Sindicato dos Instrutores e Empregados em Autoescolas de
Aprendizagem do Estado do Rio de Janeiro e o Presidente do Observatório
Nacional de Segurança Viária (ONSV).
O
instrutor de autoescola será apresentado na audiência pública como
personagem primeiro na formação do condutor, o profissional que serve de
referência e de parâmetro para o aluno em processo de habilitação.
Por
outro lado, estamos na Década de Ações Para a Segurança no Trânsito
(2011-2020) e uma das principais metas é reduzir em 50% o número de
acidentes, mortos e feridos no trânsito, ao que os parlamentares
entendem ser de importância fundamental a contribuição do instrutor de
trânsito na formação dos novos motoristas para se atingir esse objetivo.
Ainda
que muita gente não concorde com os “provões” a cobrança parece que não
vai ficar só em cima dos instrutores e examinadores de trânsito, pois a
partir dos resultados do desempenho desses profissionais no ENIT também
se fará o acompanhamento da atuação dos órgãos executivos de trânsito e
do nível de qualidade dos serviços prestados aos CFC’s e à sociedade.
Espera-se,
com isso, também cobrar dos DETRANS e até do próprio DENATRAN uma
resposta para ampliar a qualidade do processo de formação,
requalificação e capacitação desses profissionais do trânsito, aplicando
as medidas, programas e ações necessárias.
Falando
em aplicação de medidas, uma das maiores reclamações e motivo de
descontentamentos entre quem ensina a dirigir e forma novos motoristas
no Brasil é com a aplicação da Resolução 358/10, que manda para a
reciclagem os profissionais de autoescolas que não conseguem aprovar o
mínimo de 60% dos alunos que fazem o teste de direção.
Neste
caso, a Resolução 358/10 prevê a apresentação de um novo plano de
ensino para o CFC, participar de cursos de reciclagem e, se ainda assim
os alunos continuarem reprovando, a autoescola corre o risco de ser
descredenciada. É o que diz a Resolução do CONTRAN.
Só
que em meio à letra fria da lei e aos debates que parecem pretender
levar mais a sério a formação de condutores no Brasil existe uma
situação muito complexa e, de certa forma, um jogo de empurra nessa
questão das reprovações dos alunos.
Por
exemplo, muitas autoescolas acusam os Detrans de seu estado por apenas
cobrar a aplicação da Resolução 358 sem dar nenhum tipo de apoio ou
suporte, e que o aluno também tem responsabilidade sobre sua aprovação,
principalmente aqueles que se recusam a fazer mais que 20 horas/aula
mesmo sendo alertados pelos instrutores que ainda não estão preparados
para o exame prático.
Muitos
instrutores reclamam que é injusta a cobrança só em cima deles, pois
não recebem o devido apoio e orientação dos diretores de ensino, as
condições de trabalho não são adequadas, os CFC não investem em formação
permanente do instrutor, e por aí vai.
Os
especialistas em pedagogia da direção veicular apontam os métodos de
ensino ultrapassados, com foco na memorização de fundamentos de direção
que acabam caracterizando o adestramento do futuro motorista em vez de
uma aprendizagem significativa. Afinal, no trânsito de verdade não tem
macetes nem se decora para dirigir.
As
diferenças na realização dos exames de direção em cada estado brasileiro
também estarão na pauta da audiência pública e já se começa a sentir
cheiro de padronização no ar. Por exemplo, o Detran de Mato Grosso do
Sul elaborou junto com instrutores, examinadores e as autoescolas um manual de procedimentos para os exames teórico e prático de direção veicular. Baliza só com protótipo.
A
ideia é evitar discrepâncias como as que ocorrem nos exames de direção
em Minas Gerais em que o aluno que olha muito para o retrovisor na hora
de fazer o teste de baliza é advertido e até penalizado ao passo que no
dia a dia como motorista o retrovisor é a extensão dos olhos do
condutor.
O
circuito de testes e os instrumentos utilizados também mudam de estado
para estado: alguns utilizam cones, outros balizas, outros os
protótipos. Em alguns estados as provas de direção são feitas em via
pública, em outros, só no pátio da autoescola bastando fazer o slalom e a
baliza. Essa é uma questão que também será debatida na audiência
pública em Brasília no dia 24 próximo.
Como
quase formanda na graduação em Segurança no Trânsito, como educadora de
trânsito, escritora de dois livros sobre aprendizagem da direção
veicular e precursora do método decomposto de aprendizagem veicular no
Brasil com foco na aprendizagem significativa e no acolhimento emocional
ao aluno com medo e outras dificuldades para aprender, vejo a
preocupação das autoridades com bons olhos.
Numa
parada pedagógica realizada em Mato Grosso do Sul no primeiro semestre
desse ano com profissionais do Detran, 115 CFC’s e mais de 800
instrutores e examinadores de trânsito em que tive a honra de ser a
palestrante por um dia inteiro, deu para sentir que o problema pode ser
enfrentado sem confrontos.
O
debate está apenas começando e chamar à responsabilidade todos os
envolvidos no processo de ensinar e aprender a dirigir no Brasil para
identificar oportunidades e buscar soluções é fundamental. Um grande
passo.
Parece
que acendeu uma luzinha no final do túnel, daquelas de reacender a
esperança de que a formação dos novos condutores possa ser revista,
atualizada e tratada com a devida seriedade e importância. Pelo menos, a
preocupação já chegou em Brasília.